Há 6 anos atrás surgia a história “pizzaria Google” (se você não conhece, vale a pena a leitura), uma sátira à forma como a Google aprimorava sua inteligência artificial e unificava seus bancos de dados para oferecer ao usuário uma experiência cada vez mais personalizada. Há 6 anos atrás parecia uma realidade muito distante e até mesmo impossível de se tornar realidade, o que garantia bons risos para quem ouvia a história. Hoje, 6 anos depois, saio de casa para viajar, e alguns minutos depois, já na estrada, vejo a tela do meu celular com a notificação abaixo:

Estamos todos tão acostumados com notificações de alertas que nem me causou nenhuma estranheza, até que eu me dei conta de uma coisa. Eu não havia registrado em nenhum ambiente da Google que teria de viajar 160 km para chegar ao aeroporto. A única fonte que a Google tinha era o recibo de confirmação da compra da passagem enviado por e-mail pela companhia área alguma semanas antes. Mas como ela sabia que eu precisava sair exatamente às 5:28 para chegar a tempo e como ela chegou a essa conclusão?

Pimba! Usando meu GPS ou georreferenciamento (vai saber né?!). O Gmail, após criar um alerta automático para a data do voo, cruza esse dado com minha localização, estimando o tempo de deslocamento de pouco mais de 2 horas, fornecido pelo Google Maps, somando ao tempo de antecedência indicado pela companhia e temos com exatidão o horário de saída do voo.

Para alguém que possui um razoável conhecimento em tecnologias digitais, deduzir esse algoritmo é simples. Mas exige ter noções de como funcionam os bancos de dados, como uma inteligência artificial os utiliza, como ela relaciona esses dados entre eles e com dados vindos de outros dispositivos em tempo real para gerar uma nova informação (a notificação). Hardware, software, redes e banco de dados são os 4 pilares da computação. Somente com um entendimento desses 4 pilares na sua “bagagem de conhecimento” para ter a possibilidade de compreender como a tecnologia auxilia ou interage conosco.

A ficção científica costuma retratar o futuro tecnológico como algo bastante distinto do estado da arte, como se a próxima evolução, ainda irreal, criasse uma extrema disrupção com a realidade tal como a conhecemos. Todavia, no mundo da tecnologia todo dia surge uma nova pequena funcionalidade, uma pequena ideia que virou um simples e complexo algoritmo que pode gerar um grande impacto no nosso cotidiano. Muitas dessas pequenas funcionalidades surgem aos poucos, como um app de home banking, que assim como os caixas eletrônicos há anos atrás modificaram radicalmente a forma como acessamos e utilizamos o dinheiro. Essas pequenas facilidades tecnológicas vão sendo tão sutilmente inseridas diariamente em nosso dia a dia que nem nos damos conta de toda a evolução e mudança com a qual nos apropriamos ao longo de uma década. Nos acostumamos e nos adaptamos às pequenas atualizações tão gradativa e constantemente que poucos dias após serem lançadas já parece que elas sempre estiveram ali.

Nesse mundo de constante mudança, o estudante que hoje for privado do ensino básico de computação, jamais terá a chance de, quando adulto, entender o mundo em que viverá. Será como um peixe em um aquário que é transportado de um ambiente para outro sem ter a menor ideia do que está acontecendo. Um estudante que aprende computação hoje já se difere tanto de outro que não aprende quanto uma pessoa alfabetizada difere de uma analfabeta, pois essa possui a simples capacidade de ver o mundo e entendê-lo de tal forma que a outra não consegue. Essa é a nova fronteira que separa as pessoa na era digital.

E não é uma linha tênue como pode parecer.

Mas sim um abismo.